A inserção do tema “cultura africana e indígena” nos currículos escolares pode significar uma reordenação das concepções estéticas na sociedade? Tudo dependerá de uma série de configurações e variáveis, contudo a possibilidade de que a história seja contada a partir do ponto de vista dos dominados tem um peso fundamental na formação das narrativas e da identificação dos povos sul-americanos.
De certa forma, nos identificamos com uma noção de Brasil e de eu fundamentada nos valores modernos construídos pelo homem branco, burguês e das cidades. Crianças, mulheres, negros, índios e o camponês não participaram da construção desse “mundo”. Não significa que não construíram uma história, muito menos, que foram puros espectadores, significa que sua história não foi contada, ou se foi, não se tornou conhecida.
Levine afirma que:
“Os seres humanos procuram dar um sentido à sua experiência, interpretando suas ações como parte de uma biografia coerente. Quando eventos novos ou inesperados ocorrem na vida, as pessoas os inserem em suas narrativas de modo que sua história continue a fazer sentido ao longo do tempo, tal obra ajuda as pessoas a preservar um sentimento de autocoerência.” 21
É, justamente, como uma reconfiguração da narrativa coerente, que a mudança na maneira de contarmos a história pode transformar a interpretação da idéia de nação, de comunidade, de pertencimento e de justiça.
Hobsbawn, tratando do que a História tem a nos dizer, escreve que “é inevitável que nos situemos no continum de nossa própria existência, da família e do grupo a que pertencemos”(pg. 36). Para este autor, um indivíduo sem história não existe. A construção da concepção particular de eu dá-se na narrativa que construímos sobre nossa história, na maneira como nos identificamos com o passado e ao grupo a que filiamos nossas raízes.
Para além da teoria econômica, é importante compreendermos o a extensão da influência cultural nas condutas humanas. Em “O crisântemo e a espada”, Ruth Benedict afirma que a cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo. A leitura que alguém faz de suas experiências e do que observa passa pelo filtro da cultura, e por isso o campo de batalha, nessa esfera, torna-se importantíssimo para os movimentos sociais.
Nesse contexto, o impacto que a entrada da cultura africana e indígena na formação escolar merece melhor observação dos movimentos sociais e dos pesquisadores, sobretudo como tentativa de formular novas possibilidades de garantir que não seja de forma domesticada e deformada que essa cultura entre nas salas de aula, para estabelecer metodologias, conteúdos e para buscar a inserção de outras histórias como a das mulheres e do camponês nos currículos.
A luta política passa por uma inversão de valores e pela a absorção de novos conhecimentos.
João Alex
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